"Livro de Bolso" é livreto publicado em 1980, que conta com poemas de João da Rua (João Batista Morais), mas também conta com alguns poemas de amigos deles, como por exemplo Jóis Alberto, Bosco, Malú, Inaldir e Novenil (que faz algumas ilustrações no livro). Mas como o livro conta com a maioria dos poemas feitos pelo João da Rua, vamos nos ater a ele
Com uma forte dosagem e influências musicais e marginais, "Livro de Bolso" funciona como uma espécie de cartão-postal dos anos 80, com a paisagem dos bares, das ruas, da cidade e dos amores, e que na dedicatória do verso do cartão, existe uma mensagem tão íntima, intrínseca ao grupo de amigos e conhecidos (boa parte dos poemas do livro são dedicados), mas também abrangente, ecumênica, no qual qualquer desconhecido que topar com esse cartão-postal vai captar alguma mensagem da paisagem.
Com uma forte dosagem e influências musicais e marginais, "Livro de Bolso" funciona como uma espécie de cartão-postal dos anos 80, com a paisagem dos bares, das ruas, da cidade e dos amores, e que na dedicatória do verso do cartão, existe uma mensagem tão íntima, intrínseca ao grupo de amigos e conhecidos (boa parte dos poemas do livro são dedicados), mas também abrangente, ecumênica, no qual qualquer desconhecido que topar com esse cartão-postal vai captar alguma mensagem da paisagem.
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a vida não vai parar agora
tem mais uma década pra se conversar
tem mais um século pra se conversar
vira mundo fundo a fundo
a coisa não vai parar
cada qual na sua?
cada qual na sua
vendo o bonde passar
mesmo que passe amiúde
vale a pena tentar
pegar qualquer bonde
ver onde vai parar
tá todo mundo nessa de agitar
vejo tantas formas e cores
tantos sabores dissabores
e fico sacando o lance
no lance em que se está
o jeito é fazer qualquer coisa
a vida não vai parar
agora
***
poeta sem musa
sem áurea ou spleen
quase sem fígado
desempregado
quase desiludido
poeta sem prêmio nenhum
sem maiores pretensões
descrente de todaslições
tentando somente
poder curtir por aí
manda um abraço
um beijo
só
***
aquela canção
Para Daniel e Laise
sabe aquela canção
os sulcos ficaram
durante o verão
e a vitrola pediu refresco
quando passei pela cidade
eu só queria ver
sorrisos nos lábios
encontrei caras de preocupação
sabe aquela canção
falava de amor
o autor se esqueceu
que o amor acabou
ou foi mesmo o sonho
mas
existe uma esperança
em qualquer coisa
***
fica meio ruço de dizer
a gente fica matutando um jeito uma
manha
de preferência teria que ser numa manhã
sol manêro que sabe lá em zumbi
pois é e bastaria um zumbido pra mim
pra te dizer
mas fica meio ruço
fica meio ruço de acontecer
enquanto isso outras coisas vão
acontecendo
e eu quase me esquecendo que a solidão
a solidão é o que me azucrina nessa cidade
e essa cidade é uma menina que me mata
e a noite é o sonho que me promete
alguma coisa vai acontecer por aí
mas tudo muda de rosto quando amanhece
e todo o envolvimento que pintaria
sempre de mim se esquece
***
eu não sei, sabe?
eu vou tentar experimentar
eu vou terminar dizendo
eu te amo
já faz tempo
mudaram-se os tempos
a gente nunca sabe
como se entende
tudo desprogramado
mas a gente entende
eu vou terminar
dizendo
eu te amo
***
DE BUS EM BUS
Me dá vontade mesmo
de qualquer dia desses
usar o fone de reclamações
dessas empresas de coletivos
primeiro pela cara horrível
do cobrador
segundo pelas condições
de cada bus
e mais principalmente
quando passam a rio-bahia
com a gota
já não bastasse o fedor
bom mesmo era se houvesse jeito
***