quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

poema inédito em livro de Antônio Pinto de Medeiros

O VOO
para C.


Entre o possível, que te entorpece,
E o impossível, que te limita,
A impostura do tempo,
Tempo de sacrilégio
E tempo de confiteor.
Tempo de calvário
E tempo de transfiguração.
Tempo de limbo
E tempo de lucernas,
que são promessas
cavadas no ventre do mistério
que és e te transubstancia
em sombra e orvalho.
Entre o possível que te embalsama,
E o impossível, que te amortalha,
A impostura do tempo.
Tempo de amar
E tempo de temer.
Tempo de ser
E tempo de existir.
Tempo de sonho
E tempo de vigília,
que é a tua projeção,
sob o torpor dos ciprestes,
desnuda e em pânico,
a espada do unânime silêncio.
Entre o possível que te multiplica,
E o impossível, que te submerge,
A impostura do tempo.
Tempo de desejo
E tempo de apocalipse.
Tempo de claridade
E tempo de réquiem.
Tempo de flor
E tempo de cinzas,
que são o asfalto em chamas,
onde repousarás
do último voo solitário
sem aeromoças e sem escalas.



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