Capa: Cláudio Sendin
Em 1968, após longa estadia em Natal, passou a residir na capital fluminense, publicando crônicas no " O Pasquim", sob o pseudônimo de Neil de Castro. Sua poesia é lembrada pela frequente e vibrante carga erótica, inclusive, seu livro " Zona Erógena" recebeu elogios de Carlos Drummond de Andrade.
Sua obra passou a ser mais conhecida depois da adaptação para o cinema do seu romance "As Pelejas de Ojuara" (Prêmio UBE - 1987), com o nome de "O Homem que desafiou o Diabo".
Feira Livre (editora Put'zig, Rio de Janeiro, 1975), traz uma releitura do ambiente que também nomeia o livro, com poemas curtos e simples. O poeta tenta evidenciar novas possibilidades de percepção para os alimentos, às vezes bem-humoradas, marcada por um forte apelo sensorial e antropomorfização dos elementos descritos . Mas o livro vai além e também retrata, em alguns momentos, a crueza que o espaço desperta nas personagens que o compõe.
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Poemas do Feira Livre (1975)
O PEIXE
Mortos, natureza morta,
os olhos do peixe
ainda mostram medo.
Uma mulher homicida
lhe espeta o dedo.
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PEPINO
É de pequeno
que se torce o pepino.
Assim como
a mãe emascula o menino.
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OVOS
Frios,
profundamente mudos,
os ovos passam pelo poema
e nada mostram.
Salvo casca, clara e gema.
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JACA
A jaca barroca.
Se fosse mulher,
seria grande
voluptuosa
e de voz rouca.
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COUVE-FLOR
Seria flor
se não (quando menina)
tivessem injetado em sua carne
fungos de penicilina.
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OVAS DE PEIXE
Mulheres-objetos
disputam a delícia
destes fetos.
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LOURO
para Millôr, com base no seu humor.
O destino é desumano
ou não?
Esta folha caiu
da cabeça de um romano
para o feijão.
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FIM DE FEIRA
No lixo molhado,
o mais novo mendigo
briga de faca
com o mais antigo.
E o mais fraco
morrerá
por um maracujá.
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